Mais de 90% dos títulos, subtítulos e textos que reportam feminicídios têm problemas. A maioria desses, quase todos na voz passiva, merecia uma caneta desmisoginadora, uma correção, um refraseio. Ou seja, faríamos apenas isso do nosso tempo analisado a imprensa na cobertura desse e outros crimes de gênero. Mas tem uns que se destacam pelo absurdo. É o caso desse:
Na madrugada do domingo 24/7, a jovem Maressa Linhares da Silva, 24, foi brutalmente espancada pelo marido em sua casa no bairro Jardim América, Porto Belo, Minas Gerais . Os vizinhos viram o agressor arrastando o corpo desacordado de Maressa para dentro da casa onde viviam e avisaram a cunhada, irmã do agressor, que ao chegar ao local chamou a polícia. O agressor fugiu antes da chegada da polícia. Maressa foi encaminhada ao hospital de Porto Belo e devido a gravidade das lesões foi transferida para outro hospital em Divinópilis, onde veio a falecer na madrugada de quinta 28/7.
À imprensa, declarações de vizinhos e da irmã do agressor não deixaram dúvida sobre se tratar de lesões corporais graves seguidas de feminicídio e da autoria do crime. O suspeito, que já responde judicialmente pelo assassinato do próprio pai, continua foragido.
Deveríamos corrigir a matéria inteira do UOL, que além de não fazer apuração própria e se basear nos depoimentos colhidos pela EPTV (afiliada da TV Globo, MG), incluindo as declarações da polícia, corresponsabiliza Maressa o tempo inteiro pela violência que a vitimou insinuando ela ter escolhido manter o relacionamento com seu algoz após sucessivos avisos da família dele, mas ficaremos apenas com o título e subtítulo dessa vez, porque só a voz passiva reduzindo a responsabilidade do assassino já é muito.
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